domingo, 8 de fevereiro de 2015

An Enquiry concerning Human Understanding -- Hume

A primeira versão lusófona parece ser apenas de 1973, pela Pensadores capa azul, no volume "Berkeley e Hume". Foi feita por Leonel Vallandro, tradutor literário do inglês. Em Portugal, a mais velha parece ser a de Artur Morão pela 70 em 1989. Depois, em 1999, vieram as de Anoar Aiex e José Oscar de Almeida Marques: o primeiro numa versão mais nova da Pensadores, onde Hume ganhou um volume só para si e apresentação de João Paulo Monteiro, o segundo pela UNESP, reimpressa junto com a Investigação sobre os princípios da moral em 2004. Saiu em 2002 pela Imprensa Nacional uma do próprio João Paulo Monteiro. Há ainda as de Alexandre Amaral Rodrigues, lançada pela Hedra em 2009, e existe uma da Escala em cujo catálogo não figuram tradutor ou ano. Todas as traduções têm o título "Investigação sobre o entendimento humano", exceto a de Aiex, que é "Investigação acerca do entendimento humano".

Eis, para cotejo, trechos das traduções a que tive acesso. É do parágrafo 11 da seção I.

VALLANDRO: No entanto, objeta-se que essa obscuridade da filosofia profunda e abstrata não só é penosa e fatigante, mas também uma fonte inevitável de incerteza e erro. Nisto reside, com efeito, a mais plausível e justa objeção contra uma parte considerável da metafísica: a de que ela não é propriamente uma ciência, mas, ou decorre dos infrutíferos esforços da vaidade humana que pretende penetrar à força em assuntos completamente inacessíveis ao nosso entendimento, ou dos ardis das superstições populares, que, incapazes de defender-se em luta leal, levantam essas barreiras para enredar o adversário e cobrir e proteger a sua própria fraqueza. Expulsos do campo aberto aberto, esses salteadores refugiam-se na floresta e procuram tomar de surpresa todas as vias de acesso desprotegidas do intelecto e apoderar-se delas com o socorro dos temores e preconceitos religiosos.

MORÃO: Impugna-se, porém, esta obscuridade na filosofia profunda e abstrata não só enquanto difícil e fatigante, mas enquanto fonte inevitável da incerteza e do erro. Aqui reside, de fato, a objeção mais justa e mais plausível contra uma considerável parte da metafísica, que não é verdadeiramente uma ciência, mas brota ou dos esforços infrutíferos da vaidade humana, que penetraria em matérias totalmente inacessíveis ao entendimento, ou da esperteza das superstições populares que, sendo incapazes de se defender a si mesmos de um modo justo, suscitam este emaranhado de silvas para ocultar e proteger suas fraquezas. Expulsos do campo aberto, estes ladrões fogem para a floresta e ficam à espera para irromperem em todos os caminhos não guardados da mente e a oprimirem com temores e preconceitos religiosos.

MARQUES: O que se objeta, porém, à obscuridade da filosofia profunda e abstrata não é simplesmente que seja penosa e fatigante, mas que seja fonte inevitável de erro e incerteza. Aqui, de fato, repousa a objeção mais justa e plausível a uma parte considerável dos estudos metafísicos: que eles não são propriamente uma ciência, mas provêm ou dos esforços frustrados da vaidade humana, que desejaria penetrar em assuntos completamente inacessíveis ao entendimento, ou da astúcia das superstições populares, que incapazes de se defender em campo aberto, cultivam essas sarças espinhosas impenetráveis para dar cobertura e proteção a suas fraquezas. Expulsos do terreno desimpedido, esses salteadores fogem para o interior da floresta e lá permanecem à espera de uma oportunidade para irromper sobre qualquer caminho desguarnecido da mente e subjugá-lo com temores e preconceitos religiosos.
[Note-se que, nesta versão, são "avenues" que se subjugam, não "the mind".]

AIEX: Mas, objeta-se, a obscuridade da filosofia profunda e abstrata não é apenas penosa e fatigante, como também é uma fonte inevitável de incerteza e de erro. Na verdade, esta é a objeção mais justa e mais plausível contra uma parte considerável da metafísica, que não constitui propriamente uma ciência, mas nasce tanto pelos esforços estéreis da vaidade humana que queria penetrar em recintos completamente inacessíveis ao entendimento humano, como pelos artifícios das superstições populares que, incapazes de se defenderem lealmente, constroem essas sarças emaranhadas para cobrir e proteger suas fraquezas. Perseguidos em campo aberto, estes salteadores correm para a floresta e põem-se de emboscada para surpreender toda avenida desguarnecida do espírito, a fim de dominá-lo com temores e preconceitos religiosos.

MONTEIRO: Mas aquilo que se objeta à obscuridade da filosofia profunda e abstrata não é simplesmente que seja penosa e fatigante, mas que seja uma fonte inevitável de erros e incertezas. Aqui, de fato, assenta a objeção mais justa e plausível a uma parte considerável da metafísica, que ela não é propriamente uma ciência, mas ou deriva dos esforços infrutíferos da vaidade humana, que gostaria de penetrar em assuntos completamente inacessíveis ao entendimento, ou da astúcia das superstições populares que, sendo incapazes de se defenderem em campo aberto, cultivam todos esses espinhos emaranhados para esconder e proteger suas fraquezas. Expulsos do campo aberto, esses salteadores fogem para a floresta e ficam à espera de uma oportunidade para invadir qualquer avenida desprotegida do espírito, para o subjugarem com temores e preconceitos religiosos.

HUME: But this obscurity, in the profound and abstract philosophy, is objected to, not only as painful and fatiguing, but as the inevitable source of uncertainty and error. Here, indeed, lies justest and most plausible objection against a considerable part of metaphysics, that they are not properly a science; but arise, either from the fruitless efforts of human vanity, which would penetrate into subjects utterly inaccessible to the understanding, or from the craft of popular superstitions, which, being unable to defend themselves on fair ground, raise these entangling brambles to cover and protect their weakness. Chased from the open coutry, these robbers fly into the forest, and lie in wait to break in upon every unguarded avenue from the mind, and overwhealm it with religious fears and prejudices.

Escolhi este trecho com a curiosidade de ver se algum tradutor colocaria "robbers" no feminino, já que são-no as "supperstitions".