sábado, 27 de dezembro de 2014

De la recherche de la vérité -- Malebranche

Encontrei apenas uma tradução da obra para o português, e não é integral. Foi feita por Plínio Junqueira Smith, que acrescentou introdução e notas. Eis a referência:

A Busca da Verdade (Textos escolhidos). São Paulo: Paulus, Discurso, 2004.

A seleção se voltou sobretudo aos Livros I e III. Inclui ainda os Esclarecimentos VI, X, XI e XV, (mas apenas o VI e o XI estão integrais), tendo sido estes escolhidos em função das remissões que constam nos textos escolhidos dos Livros.

Para cotejo:

"Como todo o mundo está de acordo em que os julgamentos temerários são pecados e que todo pecado é voluntário, devemos também estar de acordo em que, nesse caso, é a vontade que julga, ao aquiescer às percepções confusas e compostas do entendimento. Mas, no fundo, essa questão, se é somente o entendimento que julga e que raciocina, parece bastante inútil e somente uma questão verbal. Digo somente o entendimento, pois há em nossos julgamentos a parte que eu lhe deixei, visto que é preciso conhecer ou sentir antes de julgar e consentir." (p. 77)

"Comme tout le monde convient que les jugements téméraires sont des péchés, et que tout péché est volontaire, on doit aussi convenir qu'alors c'est la volonté qui juge en acquiesçant aux perceptions confuses et composées de l'entendement. Mais au fond cette question, si c'est l'entendement seul qui juge et qui raisonne, paraît assez inutile, et seulement une question de nom. Je dis l'entendement seul, car il a dans nos jugements la part que je lui ai laissée, puisqu'il faut connaître ou sentir avant que de juger et de consentir." (Livro I, capítulo II - p. 135 da Vrin)

Sobre a tradução, Plínio Smith diz na página 35: "O francês de Malebranche é bastante fluente e agradável, dispensando um vocabulário técnico. Procurei ser o mais literal possível, mas sem perder de vista a correção do português." Fica aqui, pois, o método usado para traduzir, e os resultados a serem avaliados por quem queira segui-lo. De minha parte, quero notar apenas a opção por traduzir "jugement" por "julgamento" ao invés de "juízo", que é a opção consagrada na literatura filosófica brasileira. Literalidade radical, que mantém a até a pontuação do francês seiscentista, talvez não deva ser sempre considerada virtude, já que dificulta ao leitor identificar um diálogo entre autores, já que todas as versões de Descartes usam "juízo". Ademais, mesmo a opção por "juízo"não era, por assim dizer, anti-literal, já que o "iudicium" latino verte-se para o francês como "jugement" e para o português como "juízo". Ou seja, em última instância optou-se pela versão portuguesa da versão francesa do latim, ao invés de simplesmente optar-se pela consagrada versão portuguesa do latim.

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